A morte de Baldr

Sua vida corria feliz e serena como a de uma criancinha; mas um dia ele sonhou "sonhos graves que ameaçavam sua vida". Os deuses logo resolveram que o bom Baldr deveria ser salva- guardado de qualquer maneira; ele jamais fizera mal a alguém, era justo. Agora, que todos se unissem para o defender. Frigg, sua mãe, fez que todas as coisas e todos os seres lhe prometessem que não ofenderiam o bondoso Baldr, nem o fogo, nem a água, nem os metais, nem as pedras, nem as plantas, nem as serpentes venenosas... Os deuses tiveram, então, singular idéia: resolveram experimentar a solidez dos juramentos feitos à mãe de Baldr; era tentar o destino, mas a idéia se transformara num jogo, e a paixão pelo jogo, entre os deuses, não tinha limites. Um lançou-lhe pedras e as pedras não lhe fizeram mal; outro quis feri-lo com a espada, mas esta esquivou-se; terceiro experimentou o bastão, mas o bastão fugiu-lhe das mãos... Mas os deuses não tinham contado com o perverso e esperto Lóqui. Tomando a aparência de velha comadre, Loqui dirigiu-se a Frigg e fez com que a mãe desse com a desabafasse; ficou sabendo que nem todos os seres juraram não causar dando a Baidr; houvera uma exceção: "Há um pequeno broto - disse Frigg, imprudentemente - que cresce a leste do Válala e que chamam Mistilteifl (broto de visco); ele me pareceu tão pequenino, tão tenro e tão delicado que não quis exigir dele o juramento". Lóqui imediatamente colheu um rebento de visco e se dirigiu para Thing, a assembléia onde os deuses jogavam com Baldr; aproximou-se de Hödr, outro filho de 0dim, irmão portanto de Baldr, e que não tomava parte no jogo por ser cego. E Lóqui lhe disse: "Faz como os outros, ataca-o, eu te indicarei a direção; atira-lhe com este rebento". Hödr, cego, cometeu a imprudência de confiar no perverso Lóqui; lançou contra Baldr o pequeno broto de visco e este o atravessou como um dardo e ele caiu morto sobre a terra. E esta foi a maior desgraça que aconteceu aos deuses e aos homens.

Depois da morte de Baldr os deuses permaneciam sem voz; quando queriam falar, rebentavam em lágrimas. Decidiram fazer solenes funerais. Conduziram seu corpo até o mar, Construíram uma pira sobre a barca que lhe pertencera e puseram-no em cima da fogueira, juntando-lhe o cavalo, magnificamente ajaezado. Tudo foi consumido pelas chamas; todos estavam presentes ao funeral; viam-se até gigantes que tinham vindo do país dos gelos ou das montanhas.

Mas Frigg perguntava a todos os deuses se não haveria um capaz de ir ao reino das sombras buscar-lhe o filho; de feito, como Baldr não morrera em combate, não pudera ir para o Válala, mas permanecia no Reino de Hel. Aquele que prometesse trazer o filho, Frigg, de antemão, concedia já seus favores.

Hermod, filho de 0din, resolve tentar a empresa; monta no Sleipnir, o cavalo paterno, e se põe em viagem; cavalga durante nove dias e por fim atinge o rio que cerca o país dos mortos; lá o guarda da ponte lhe diz que Baldr passou por ali, na véspera, com 500 homens; Hermod prossegue na sua rota e chega diante das grades que fecham o Reino de Hel; Sleipnir transpõe as grades num pulo prodigioso e conduz o valoroso Hermod à presença da deusa; diz-lhe qual a missão que ali o trouxe. Hel responde-lhe: "Se todas as coisas no mundo, vivas e mortas, o choram, ele retornará para junto dos Ases; mas ficará com aqui se houver alguém que recuse chorar por ele".

Logo que souberam dessa resposta, os Ases enviaram mensageiros pelo mundo todo a fim de pedir a todos os seres que tiras sem Baidr do reino dos mortos com as suas lágrimas; todos o choravam, as árvores, os animais, os homens, os gênios e os deuses; as pedras, a terra, os metais, as águas também o choravam. E já, muito satisfeitos por terem tão bem desempenhado a missão, voltavam os mensageiros quando, numa caverna, perceberam uma gigante feiticeira que havia nome Thokk; e esta não chorava; pediram-lhe, então que chorasse; mas ela se recusou, dizendo: "Nem durante sua vida nem depois da sua morte Baldr me prestou o menor serviço; que Hel conserve o que possui".

Morto Baldr, o mundo não poderia mais conhecer a verdadeira bondade, a justiça perfeita, a beleza sempre benéfica; a vida estaria misturada a morte, à beleza a feiúra, à justiça a desonestidade, ao puro a impureza, à alegria as lágrimas... E coisas boas, santas e puras juntaram-se ao que era feio, mau e impuro; começara a desagregação do mundo que somente terminaria com a catástrofe final; depois desta, porem, viria a Renovação; a Terra emergiria inteiramente nova do Oceano; os filhos dos deuses mortos voltariam para o país dos Ases; a Terra seria bela e fecunda, pois Baldr retornaria.